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História de Miróbriga
O estado de conhecimentos disponíveis leva a
remontar a ocupação do cerro de Miróbriga pelo menos, ao século V-IV a.C., mas é
possível que no final da Idade do Bronze já existisse uma ocupação. [...]
Em 133 a.C., quando da campanha militar de D. J Brutus, os habitantes de
Miróbriga já estariam sob a influência de Roma ou pelo menos não eram hostis. Do
período das guerras entre Pompeu e César não nos chegaram referências deste
povoado, mas é provável que os seus habitantes estivessem, por questões de
fidelidade, no campo de Pompeu, uma vez que no século I a.C.. Plínio assinala
Miróbriga como oppidum estipendiário (povoados fortificados sem
qualquer privilégio e que pagavam imposto). |
Na época da dinastia dos
imperadores Flávios recebeu, possivelmente, o estatuto de direito latino ou romano,
confirmando uma integração plena dos seus habitantes na cultura, economia e sociedade
romana.
Esta ascensão de Miróbriga é marcada pela transformação urbana da cidade.
Miróbriga seria um povoado sem uma estrutura urbana romana. Nesta época iniciou-se a
transformação urbana que passou pela construção do forum, do templo [...]. As
obras continuaram no período da dinastia dos Antoninos, com a construção, primeiro das
Termas Este e depois das Termas Oeste.
Não se dispondo de dados muitos seguros, pensa-se que a partir do século IV d.C. a
cidade começou a entrar em lento declínio, acompanhando um processo em tudo similar a
outras cidades do Império. Quando das invasões muçulmanas, ocorridas na região cerca
do ano de 712. a cidade já estaria abandonada, sendo ocupado o cerro próximo, onde hoje
se localiza o castelo medieval.
Luis Jorge
Gonçalves, in: A Época Romana na Costa Azul, Região de Turismo da Costa
Azul, 1994
Intervencões
Arqueológicas
Classificado
como imóvel de interesse público desde 1940, afecto ao Instituto Português do
Património Arquitectónico e Arqueológico desde 1982, o extenso complexo arqueológico
de Miróbriga situa-se nas proximidades da cidade de Santiago do Cacém, concelho de
Santiago do Cacém.
A primeira notícia que conhecemos sobre as ruínas de Miróbriga data do século XVI: O
humanista André de Resende a elas se referiu como sendo uma povoação outrora chamada
Merobrica. Baseava-se em Plínio, historiador romano do século I, que a situa entre a
antiga Salácia (Alcácer do Sal) a Lacobriga (Lagos).
No século XIX foram objecto de escavações, promovidas pelo Bispo de Beja (e, mais
tarde, Arcebispo de Évora), D. Frei Manuel do Cenáculo.
Investigadores de uma equipa luso-americana que aí trabalhou de 1981 a 1985 perfilham a
opinião de que Miróbriga seria habitada, pelo menos, desde a Idade do Ferro, tendo as
características comuns às cidades provinciais romanas. Dotada de um Forum com
um templo dedicado ao culto imperial, situado no centro da praça e um outro templo,
possivelmente dedicado a Vénus, o aglomerado urbano possuía ainda uma zona comercial -tabernae
que se desenvolve a sul do Forum e uma hospedaria. As termas, compostas por dois
edifícios de cronologias diferentes, apresentam os compartimentos usuais destas
construções: zona de entrada, zona de banhos frios - "frigidarium" e
zona aquecida - caldarium e tepidarium. O pavimento das salas era
coberto de mármores, sendo as zonas quentes aquecidas pelo sistema de hipocausto, por
onde circulava o ar quente.Calçadas construídas de xisto atravessavam o aglomerado e
uniam os vários núcleos urbanos. Relativamente perto das termas pode ver-se uma ponte de
um só arco de volta inteira.
Já nos anos quarenta do nosso século iniciaram-se trabalhos de pesquisa
sistemáticos, impulsionados e orientados pelo Dr. Cruz e Silva, investigador natural de
Santiago do Cacém.
D. Fernando de Almeida efectuou em Miróbriga diversas campanhas de escavação desde 1959
até à década de 70. Interpretando como templos os vestígios arqueológicos detectados
no Forum, D. Fernando de Almeida defendia a tese de que Miróbriga seria um santuário com
as necessárias infra-estruturas de apoio aos peregrinos: um complexo termal, habitações
e um hipódromo destinado às festividades aí realizadas.
Filomena Barata in: Ruínas Romanas de Miróbriga, Câmara
Municipal de Santiago do Cacém |